Recentemente o Instituto Goethe contratou o grafiteiro Rafael Augustaitz para decorar um de seus painéis, o que ele fez com uma versão satírica do ícone cristão do Pantokrator, pintado de maneira a parecer demoníaco e com a cabeça decapitada sobre um prato. A provocação (nem um pouco inédita no Brasil de hoje) gerou ultraje de diversos cristãos, em função da agressão gratuita contra o objeto de sua fé, e o Instituto Goethe respondeu com surpresa e perplexidade diante do fato de as pessoas ficarem irritadas quando os valores que prezam são insultados. Algum pixador anônimo destruiu o trabalho de Augustaitz, cobrindo a imagem e escrevendo por cima "Ele Ressucitou". Vários simpatizantes do artista, a nata da "intelectualidade brasileira", manifestaram sua indignação pela "intolerância" e "vandalismo". Percebemos então, que quando se trata de vandalismo e intolerância, por alguma razão que me escapa alguns são chamados a ser agredidos sem direito de resposta, enquanto outros tem não apenas o direito de agredir, como de ser defendidos e remunerados por isso.
Achincalhar o cristianismo por meio de "arte" não é nenhuma novidade historicamente: o grafite de Alexamenos, encontrado nas proximidades do Palatino em Roma, e datado por volta do Século III, retrata um cristão adorando um homem com cabeça de burro crucificado. Pretensas obras de arte como as de Antônio Obá (que ralou uma imagem de Nossa Senhora), ou os exposições do Queermuseum, ou ainda os rabiscos escatológicos de Pedro Moraleida, tem muito em comum com esse insulto anscestral. Flávio Morgenstern já dissertou em seus artigos como a arte anti-cristã, que se pressupõe underground (como se isso a atribuísse qualquer valor objetivo), é na verdade largamente financiada por bancos e artistas riquíssimos. Assim como no império Romano simultaneamente se espanca desavergonhadamente a doutrina cristã pela sua defesa dos "fracos" (vide os discursos de Celso), enquanto se culpa o cristianismo pelas misérias naturais e políticas que a comunidade enfrenta (veja os registros do pagão Tácito das perseguições de Nero).
No filme de terror "O Exorcista", o demônio em diálogo com o padre diz que sumir com as correias que prendem a menina possuída seria uma demonstração de poder muito vulgar. Entretanto, devemos lembrar que estamos falando do pai da mentira, e demonstrações vulgares são tudo que ele pode fazer (mesmo que revestidas de falsa importância) já que ele é impotente perante Cristo. Devemos entender que, como dizia Santo Agostinho, Satã é como um cão raivoso, que não ataca além do limite de sua correia. Não podendo atacar o Filho, ele persegue a Mulher (Igreja) e seus filhos adotivos (Ap 12,13) ou tenta levar os homens a abusar da confiança e liberdade concedidos por Deus (Mt 4,4-11). Eis a origem de tanta fúria.
O Inimigo tem de contornar para atingir seus objetivos a sensibilidade, pois as pessoas normalmente buscam a beleza e o bom gosto e fogem à feiúra, e o pecado é feio. A mulher média, o homem médio, ficam estupefatos diante da profusão de imagens perversas da "arte" satanista, que se resume a uma monótona repetição louvando todo tipo de perversão sexual e as violências contra a vida. Os satanistas, com afetado ar de superioridade, debocham das sensibilidades das pessoas, alegando que seu choque provém de um desconhecimento dos fatos da vida. Na verdade é a ignorância dos próprios artistas que desconcerta os observadores: seu desconhecimento da dignidade da vida, de seu começo e de seu fim, inclusive do ato que a doa.
É curioso considerar a obsessão que os satanistas parecem ter pelo "sexo" e pela morte. Mário Ferreira dos Santos fala sobre como a invasão vertical do barbarismo na sociedade greco-romana-cristã usa como uma de suas ferramentas a exaltação excessiva da sensualidade. Simultaneamente se acusa a Igreja de represar a sexualidade injustamente, afim de controlar os homens, mas se vende Corpo e Imagem em escravidões inimagináveis dos sentidos e da Dignidade como a prostituição e a pornografia. Os mesmíssimos argumentos são usados quando o Cristianismo tenta disciplinar as "pulsões de morte" (Eutanásia e Aborto): "O homem deve ser livre para decidir até quando quer viver" e "a mulher deve ser livre para encerrar a gravidez, sendo a morte do bebê irrelevante".
Nisto consiste a ira contra a imagem do Cristo, exposta na pichação: O Pantokrator (Todo-Poderoso) é aquele que renunciou a todas as suas vontades, preferindo servir e levar outros a servir. Assim como no livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, é proposta pelos detratores do Cristo uma sociedade que considera a auto-disciplina obscena e o sacrifício pelo bem dos amados como estúpido. Se fala em "desmistificar", "desconstruir", mas em nenhum momento se fala do que vai ficar no lugar: Que "bem" esse tipo de arte acrescenta no mundo? Se está vendendo uma mistura cínica de niilismo com entorpecimento hedonista, bajulação dos sentidos mais baixos somada com ódio contra o Sublime. Acusam a repressão dos instintos, mas esquecem que esse recalque não é gratuito: quem não sabe dizer "não" a si mesmo nunca saberá dizer "sim" para os outros.